Outro dia, presenciei uma briga de um casal na porta de uma casa noturna. Ela berrava com todos os pulmões que sentia nojo, mas muito nojo dele. Ele, com ares de réu, tentava contornar a situação. Quando todos os presentes já estava prestando atenção à discussão, ela disse que jamais poderia perdoá-lo depois dele ter BEIJADO a mãe dela. Isso mesmo: ele pegou a mãe dela, uma loirona siliconada com naipe de Vera Fischer (agora o que a mãe fazia na balada não vem ao caso), na frente de todos os amigos. Depois dos "ooohs" da plateia, ele simplesmente deu os ombros e revelou: "eu gosto da outra mesmo".
Diante da cena, fiquei me questionando: por que os casais brigam tanto? Por que os parceiros fazem questão de tornar momentos românticos a dois em verdadeiras sessões de tortura? Se você ama fulano, por que motivo você tem de atazanar a vida da pessoa? Quem sai ganhando? É até possível vencer uma batalha (por exemplo, forçando o coitado a ir assistir Sexy and the City pela vigésima vez ou obrigar a namorada a ir pescar com os seus amigos), mas será que a guerra vale a pena?
Aí me caiu a ficha. Tudo é uma questão de ter objetivos definidos e procurar por cidadãos aptos a desempenhar tal papel. Explico. Eu, por exemplo, preciso de alguém que espante as pombas do meu caminho. Não é concebível para mim, não ter a certeza de que pessoa ao meu lado não vai gritar "xô, xô" para aqueles demoninhos de pena, enquanto eu fico paralisada alguns passos atrás (Nota da Redação: a autora sofre de uma fobia inexplicável a aves). Já minha amiga Fernanda precisa de alguém que não se importe de ligar para ela só após a novela das oito. Outras conhecidas, como Andréa, precisa de alguém que goste da mãe dela. Roberta, definitivamente, precisa de um cara micareteiro. Ana Paula precisa de alguém que goste de esmalte vermelho. Já Lúcia precisa de alguém que não dê muita importância para depilação. Carol precisa de alguém que ache lindo ela estar sempre com o nariz entupido. E Daniela precisa de um cara que jure amor eterno (mesmo que de mentirinha) só para ela se sentir segura.
O problema se dá porque ninguém está preparado para aceitar o outro como ele verdadeiramente é. Parece clichê, mas é verdade. As pessoas, em vez de procurar por relacionamentos que possam atender às suas necessidades, elas querem transformar o outro - querendo este ou não - em servis soldados do seu bel-prazer. A partir do momento em que se diz "sim, eu aceito", ambos os lados (ou o mais inseguro) começa uma incansável saga em prol de se firmar como o macho-alfa ou a fêmea-alfa do enlace. E, convenhamos, o que importa numa relação amorosa não é quem manda mais ou quem abaixa a cabeça e obedece. O que realmente levamos e lembramos junto do travesseiros naquelas noites de insônia são as risadas, as conversas, os carinhos, as descobertas. E não se naquele sábado à tarde, você venceu a discussão de que o nome correto do lanche era Cheddar McMelt, e não McCheddar.